E por falar em trabalho - não tão agradável como o da
Triumph -, falemos da Casa Pia.
Por razões profissionais, tenho assistido a esta fase final do julgamento. Depois de ter acompanhado o processo no início do escândalo, volto agora, no final, a ouvir falar de casos (múltiplos e escabrosos) de crianças ou jovens abusados.
Tenho a série impressão de que a montanha vai parir um rato. O rato será o Carlos
Silvino, acompanhado por meia-dúzia de condenados a pequenas penas que dificilmente serão maiores do que a pena suspensa.
A justiça é difícil. Provar estes factos no tribunal é quase impossível, mesmo não havendo dúvidas de que dezenas de miúdos foram abusados durante décadas: para Carlos
Silvino era quase um desporto ou uma necessidade básica, como jantar ou almoçar. Além dele, os outros autores dos abusos continuarão a
reunir vários grandes pontos de interrogação.
As últimas horas de alegações finais do julgamento parecem o totoloto. A acusação admite que não consegue dizer ao certo quantos crimes foram praticados. Sem números certos, vai pela estimativa por baixo.
Na dúvida, dizemos que o aluno A. foi abusado pelo menos x vezes.
Os menores foram abusados, é certo, centenas ou milhares de vezes. Mas apenas se conseguem provar poucas dezenas de crimes.